terça-feira, 4 de outubro de 2005

VERDE, LIVROS, TREVAS




@ Estive uns dias no Tarrafal. O percurso Praia - Assomada- Tarrafal está mais lindo do que nunca. Esta é a altura em que o nome desse nosso país faz um pouco mais de sentindo. Está tudo verde. Os montes, os vales, as almas cheias de esperança.O milho cresce bem.Em algumas zonas já há espigas crescidas. Noutras ainda estão rasterinhos porque foram plantados mais tarde, quando os agricultores se deram conta de que afinal este ano até tem chovido bem (aqui em Santiago, pelo menos).

Tarrafal num fim-de-semana e Tarrafal durante a semana são coisas diferentes.Aos fins-de-semana é a multidão de forasteiros, vendedeiras de água de coco, miúdos a pedir moedas, cães, bolas por todo o lado... Eu prefiro o de durante a semana. Na praia não se vê quase ninguem (principalmente de manhã). Quietude. Paz. Mesmo o que eu estava á procura.




@ Voltei para Praia antes do que desejava, mas não quis perder a abertura da Feira do Livro . O de sempre: discursos que as pessoas ouvem sem nenhuma paciência, multidão a acotovelar-se, corrida desenfreada quando se abrem as portas, que a oferta é pouca. E era. Toda gente a quem ouvi a opinião disse o mesmo: está cada vez mais pobre em quantidade a Feira do Livro (talvez porque agora há outros destinos para a realização da Feira, mas não custa nada encomendarem mais livros). Diversidade há. Mas também pecam pela desactulidade. Poucos livros recém editados. Principalmente no que toca á literatura estrangeira e algumas áreas técnicas.
Mas nem tudo foi mau. Kafka, Sartre,Marguerite Duras,Oscar Wilde, Jonh Le Carré, Hemmingway e vários outros, vendiam-se a duzentos e trinta escudos ( cerca de 2.60 euros).

Do que mais "gostei" foi dos comentários que ia ouvindo enquanto percorria o recinto. Ouvi de tudo. Desde um senhor a declarar que não comprava nada de Oscar Wilde por este ser gay (!), a uma senhora desesperada por já não ter encontrado nenhum exemplar do Cádigo da Vinci - havia uma "máfia" ali a funcionar que açambarcou todos os exemplares antes do público invadir a sala - que, segundo ela, era o que a tinha levado ali (!!!). Depois ouvi uma jovem a declarar para a amiga que já tinha um exemplar de um livro da Zélia Gattai e agora queria um do marido dela, o Paulo Coelho (!?!). Tive que me segurar muito (não sejas atrevida!)para não interferir: "Querias dizer Jorge Amado, não é?".
Bem, foi no mínimo uma experiência interessante.




@ Por falar em experiências interessantes...há dias tive uma verdadeiramente memóravel. Estive a escolher filmes num videoclube a luz das velas. Enquanto percorria as prateleiras com o coto de vela na mão não consegui parar de sorrir. Isto é demais, não?
Praia continua a funcionar a meio gás, com cortes diários de energia. De manhã aqui,á tarde ali e á noite acolá. Ontem a Televisão chamou o ministro João Pereira Silva para dar explicações aos praienses.É a defesa da versão "A Culpa é do Governo". Existem ainda a versão "A Culpa é da Eletra", a versão "A Culpa é do MPD" e ainda a teoria da conspiração do Pacto Secreto Eletra/MPD com o fim de custar as próximas eleições ao PAICV (Governo).

Organiza-se amanhã, ás 17 horas, uma manifestação de protesto.Sugestão: levem velas ou lanternas, porque ao voltarem para casa (com os normais atrasos e o passo lento da marcha já deverá ser noite nessa altura)vão precisar delas para iluminar o caminho e acertar no buraco da fecahdura da porta de casa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma vez, dei um salto ao teu blog e devo-te dizer que a imaginação e lucidez não te faltam!
Consegues tocar no que é de essencial para as pessoas lerem, por isso mais uma vez, os meus parabens.
Ontem também estive a ver RTP África e vi a reportagem sobre a feira do lívro, curiosamente, a interpretação que fiz do empurão é o seguinte: Cabo-Verde é um país cheio de pessoas cultas, de modo que quando aparecem eventos assim, ninguém quer perder a oportunidade para levar um lívro para casa. Os meus parabens aos Caboverdeanos, pois, souberam transformar as armas em arrado, isso é bonito de ver.
Uma última palavra para ti: força com o teu blog porque estás a fazer um belissimo trabalho. bj,
José Filipe (Coimbra)