quarta-feira, 9 de novembro de 2005

SOLIDÃO II

Passam os carros e fazem tremer a casa
A casa em que estou só.
As coisas há muito já foram vividas:
Há no ar espaços extintos
A forma gravada em vazio
Das vozes e dos gestos que outrora aqui estavam.
E as minhas mãos não podem prender nada.
Porém eu olho para a noite
E preciso de cada folha.
Rola, gira no ar a tua vida,
Longe de mim...
Mesmo para sofrer este tormento de não ser
Preciso de estar só.
Antes a solidão de eternas partidas
De planos e perguntas,
De combates com o inextinguível
Peso de mortes e lamentações
Antes a solidão porque é completa.
Creio na nudez da minha vida.
Tudo quanto me acontece é dispensável.
Só tenho o sentimento supenso de tudo
Com a eternidade a boiar sobre as montanhas.
Sophia de Mello Breyner Andresen - Coral

2 comentários:

Silvino Évora disse...

Oi Kamia:

Obrigada pela tua visita e pelo Parabéns que déste ao NÓS MEDIA. Também, agradecemos muito o link que fizeste para o nosso blogue, notícia que recebemos com muita alegria e achamos muita simpatia tua.
Sobre o que escreveste sobre racismo, a verdade é que ela existe e está ali na rua... confronta-se com ele todos os dias... como bem observaste, no limite, acabam em motins como o que acontece em França. Essa é a grande verdade.

Ficamos contentes por saber que estás a apreender dia por dia as coisas da blogosfera. A verdade é que todos nós aprendemos um pouquinho, quando revolvemos fazer um percurso por esse campo.

Fique com uns beijinhos.

Silvino

Kamia disse...

Perante alguns e-mails recebidos no Sopafla@gmail.com vejo-me na necessidade de esclarecer que os dois posts intitulados "Solidão" não se referem á minha pessoa. Isto é, não é uma declaração sobre o meu estado actual, nem nada. Simplesmente postei sobre solidão porque nesses dias este tema estava em destaque com a exposição de fotografias de Omar Camilo e o livro de poesias de já não me lembro quem.
Portanto obrigada aos que ofereceram a sua companhia (ai, ai...), mas não há necessidade :)