Pela rádio do autocarro 10 soube que eram 19 horas. O autocarro parou e eu desci. Comigo mais duas ou três pessoas. Eu ia distraida, a pensar num certo concurso de literatura do qual nunca mais saem os resultados. Virei uma esquina e então reparei nas pessoas que caminhavam no mesmo sentido: andavam todos apressados, rígidos. A uma senhora que passou por mim vi-lhe os nós dos dedos, brancos pela maneira como segurava na sua bolsa. Um grupo de adolescentes veio na minha direcção. Um deles olhou para a minha bolsa que eu levava descuidadamente a abanar por uma mão. Quando olhou para a minha cara atirei-lhe com o meu olhar mais feroz.
Mas depois apressei o passo. Também. Quando cheguei à minha rua senti o habitual alívio.
Dois dias depois, na minha rua, alguns jovens espancaram um velhote por este lhes ter tirado a bola de futebol com a qual o atingiram. Surgiu um carro de policia e eu afastei-me da janela. Da cozinha, a lavar a loiça ouvi tiros. Tiros. Na minha rua. A dois passos da minha casa.
É assim que vamos viver agora?
7 comentários:
Bom dia Kamia!
...que horror!!!!!! mais vale estugar o passo, nao te demores em olhares ferozes, não resultam com essas possoas que provavelmente os entenderao como um convite à violencia...
Cuida de ti!
Bjico (preocupado)
Rosario este post não mostra nem de leve o que se tem vivido nesta cidade. Todos os dias tem havido assaltos que quase sempre acabam em agressões e por vezes morte. Há grupos de rapazes organizados nesta prática (os chamados thugs)e a coisa está a tornar-se cada vez mais violenta. Antes ouviam-se contar casos passados nos bairros mais problémáticos agora est´
a em todo lado. Cada vez mais perto de todos.
Eu sei que mais tarde ou mais cedo vai chegar a minha hora de levar um caçu body.E revolta-me ter que me conformar a passar o resto dos meus dias a andar depressinha, stressada e a olhar por cima dos ombros.
bom dia Kamia,
Sabes, nós que vivemos no Brasil já vimos isto acontecer....exactamente assim....e começou por causa da indiferença geral...como nós...Penso que não estamos a aprender nada com a (in)experiência dos outros.
Cumprimentos, arocha.
Ei,
Adorei seus textos. Sou brasileiro e te linkei no meu site. Tenho uma seção que é só de sites de países que falam a lingua portuguesa.
Me visite e me linke, ok??
Beijão,
Kafé.
Mesmo fazendo por acreditar nas capacidades dissuasoras do tal olhar mais feroz, é melhor teres cuidado Kamia. Take care!
Não Jorge, o meu olhar não era para dissuadir. Apenas não consegui lhe lançar um olhar meiguinho nem um de medo. E claro que tento tomar cuidado.Mas pela maneira como as coisas vão o único jeito de não correr riscos nenhuns é não saindo de casa. Aliás, nem assim, porque já andam a assaltar casas com gente dentro e tudo...
Anónimo arocha não sei o que a sociedade civil pode fazer quanto a isso.Será que marchas, debates, memorandos vão resultar? As "milicias populares" que de forma timida começam a aparecer aqui na Praia é que não me parece uma forma correcta de resolver o assunto. O Governo tem é uma batata quente nas mãos para resolver: Empregos, reinserção social e politicas anti-criminalidade são medidas urgentes a serem tomadas.Mas temo que já possam vir tarde. É como colocar uma fita-cola no vidro estalado.
Será que a população vai ter que ser obrigada a armar-se para combater os THUGS? Se os responsáveis pela segurança não fazerem nada para evitar que esses gatunos continuem a espalhar insegurança e caos, creio que chegará um dia em que entrará na Assembleia Nacional um projecto de lei que vai pedir a liberalização das armas. Ninguém está disposto a ficar de braços cruzados à espera o seu dia de Caçu bódi, que está a tornar-se algo inevitável. Aí vai estar tudo perdido mesmo.
Qual THUG qual quê? O lugar dos gatunos é a cadeia. Estamos fartos dessa gaita de Caçu bódi e Thugs.
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