terça-feira, 21 de março de 2006

Vida Urbana

Pela rádio do autocarro 10 soube que eram 19 horas. O autocarro parou e eu desci. Comigo mais duas ou três pessoas. Eu ia distraida, a pensar num certo concurso de literatura do qual nunca mais saem os resultados. Virei uma esquina e então reparei nas pessoas que caminhavam no mesmo sentido: andavam todos apressados, rígidos. A uma senhora que passou por mim vi-lhe os nós dos dedos, brancos pela maneira como segurava na sua bolsa. Um grupo de adolescentes veio na minha direcção. Um deles olhou para a minha bolsa que eu levava descuidadamente a abanar por uma mão. Quando olhou para a minha cara atirei-lhe com o meu olhar mais feroz.
Mas depois apressei o passo. Também. Quando cheguei à minha rua senti o habitual alívio.
Dois dias depois, na minha rua, alguns jovens espancaram um velhote por este lhes ter tirado a bola de futebol com a qual o atingiram. Surgiu um carro de policia e eu afastei-me da janela. Da cozinha, a lavar a loiça ouvi tiros. Tiros. Na minha rua. A dois passos da minha casa.
É assim que vamos viver agora?

7 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Kamia!
...que horror!!!!!! mais vale estugar o passo, nao te demores em olhares ferozes, não resultam com essas possoas que provavelmente os entenderao como um convite à violencia...
Cuida de ti!
Bjico (preocupado)

Kamia disse...

Rosario este post não mostra nem de leve o que se tem vivido nesta cidade. Todos os dias tem havido assaltos que quase sempre acabam em agressões e por vezes morte. Há grupos de rapazes organizados nesta prática (os chamados thugs)e a coisa está a tornar-se cada vez mais violenta. Antes ouviam-se contar casos passados nos bairros mais problémáticos agora est´
a em todo lado. Cada vez mais perto de todos.

Eu sei que mais tarde ou mais cedo vai chegar a minha hora de levar um caçu body.E revolta-me ter que me conformar a passar o resto dos meus dias a andar depressinha, stressada e a olhar por cima dos ombros.

Anónimo disse...

bom dia Kamia,

Sabes, nós que vivemos no Brasil já vimos isto acontecer....exactamente assim....e começou por causa da indiferença geral...como nós...Penso que não estamos a aprender nada com a (in)experiência dos outros.

Cumprimentos, arocha.

Kafé Roceiro disse...

Ei,
Adorei seus textos. Sou brasileiro e te linkei no meu site. Tenho uma seção que é só de sites de países que falam a lingua portuguesa.
Me visite e me linke, ok??

Beijão,
Kafé.

M.J.Marmelo disse...

Mesmo fazendo por acreditar nas capacidades dissuasoras do tal olhar mais feroz, é melhor teres cuidado Kamia. Take care!

Kamia disse...

Não Jorge, o meu olhar não era para dissuadir. Apenas não consegui lhe lançar um olhar meiguinho nem um de medo. E claro que tento tomar cuidado.Mas pela maneira como as coisas vão o único jeito de não correr riscos nenhuns é não saindo de casa. Aliás, nem assim, porque já andam a assaltar casas com gente dentro e tudo...

Anónimo arocha não sei o que a sociedade civil pode fazer quanto a isso.Será que marchas, debates, memorandos vão resultar? As "milicias populares" que de forma timida começam a aparecer aqui na Praia é que não me parece uma forma correcta de resolver o assunto. O Governo tem é uma batata quente nas mãos para resolver: Empregos, reinserção social e politicas anti-criminalidade são medidas urgentes a serem tomadas.Mas temo que já possam vir tarde. É como colocar uma fita-cola no vidro estalado.

Anónimo disse...

Será que a população vai ter que ser obrigada a armar-se para combater os THUGS? Se os responsáveis pela segurança não fazerem nada para evitar que esses gatunos continuem a espalhar insegurança e caos, creio que chegará um dia em que entrará na Assembleia Nacional um projecto de lei que vai pedir a liberalização das armas. Ninguém está disposto a ficar de braços cruzados à espera o seu dia de Caçu bódi, que está a tornar-se algo inevitável. Aí vai estar tudo perdido mesmo.
Qual THUG qual quê? O lugar dos gatunos é a cadeia. Estamos fartos dessa gaita de Caçu bódi e Thugs.