segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Maria de Barros, A Ousada

Sábado á noite o auditório Jorge Barbosa assistiu a um concerto delicioso da encantadora Maria de Barros. Foi a primeira vez que a ouvi e constatei que, não dispondo de uma voz por aí além, Maria tem no entanto um dom para interpretar músicas que nos faz render ao seu ritimo. Alegre e com uma capacidade de entrega notável, a diva não desistiu de cativar um público dificel que, embora com alguma relutância, acabou por se entregar às suas coladeiras.
Maria de Barros é também ousada. Em tempos de glorificação dos ritimos tradicionais e de purismos exarcebados (que levaram alguns entendidos a torcer o nariz a Dimokransa de Mayra Andrade, por ter demasiado sabor a samba) ela ousou misturar coladeira com samba, com ragga, com um ritimo que indentifiquei como português e que penso chamar-se fandango, e até mesmo com Funaná, quando interpreteu uma coladeira que incluía o uso do ferrinho. Cantou também em francês e em espanhol. Ousadias que poderão não ter caído no goto de alguns mas que a mim me soube bem.
Maria de Barros esteve bem acompanhada por um sexteto de músicos, formado por três caboverdianos, dois brasileiros e um americano, competentes nos intrumentos que lhes cabia e constituindo também um coro de segundas vozes que me deixaram agradavelmente surpreendida.
Uma nota para uma das melhores iluminações de shows que já vi no auditório J.B. e para os efeitos de sons bem conseguidos.
Foi para mim, se não um espéctaculo memorável, pelo menos uma agradável descoberta.
Ah! E a coladeira definitivamente não está em declínio, como há tempos se dizia num encontro sobre a música caboverdiana.

3 comentários:

Anónimo disse...

Hello Kamia, como eu me encaixo neste dito "...que levaram alguns entendidos a torcer o nariz a Demokransa de Mayra Andrade, por ter demasiado sabor a samba..." queria remeter os leitores para o que eu disse em... e talvez acrescentar o seguinte: em relação a Dimocransa de Kaká Barbosa, por ser uma música inédita e mais, da pessoa que é o autor, penso que a Mayra podia ser fiel à obra tal como o criador o propôe.
É que aqui não estamos a falar de fazer mais uma versão da música.
Este mesmo racicionio penso que se aplica aos temas que particularmente comentei...

Anónimo disse...

Acrescento o link...
http://sondisantiagu.blogspot.com/2006_07_01_sondisantiagu_archive.html

Kamia disse...

Oi Djinho.
Não sabia que tu eras um dos que tinham feito esse comentário (que Dimokransa estava mais para samba) :)
De qualquer maneira, fui lá ver o que escreveste e pelo menos a tua opinião está bem fundamentada. Tu conheces bem o autor da música ( eu também não sabia quem era)e sabes como ele a queria.
Ouvi o comentário a outros que apenas implicaram por o ritimo não ser muito caboverdiano.
Já agora, fiquei curiosa. Como é que funcionam estas coisas de alguem fazer uma música para ser cantada por outrem?
Se for uma pessoa que compõe a letra (está claro que já a faz para ser tocada num determinado ritimo)ela depois não ouve a música e decide se a quer assim ou não? Não tem direito a ouvir o produto final antes desse ser lançado para o público?

Explica-me por mail.

Bjs