terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Sentidos

Ouvindo. Pidrinha de Dudu Araújo. No ano passado, estava a passar uns dias no Tarrafal e, houve um dia em que adormeci com os auscultadores do radinho ao ouvindo. Madrugada a dentro, meio a dormir meio acordada, ouvi a música É Morna. Foi a primeira vez que ouvi esta música e no dia seguinte não me saía da cabeça. Achei-a lindíssima e também a voz do cantor, que não sabia quem era. Andei uns tempos absecada, tentando saber quem era o dono daquela voz (ainda passou-me pela cabeça que era o Albertino, mas algo me dizia que não era) e o autor daquela música tão bela. Só muito recentemente voltei a ouvir a música pela voz da Nancy Vieira, que também a interpreta maravilhosamente, mas ainda não estava satisfeita. E então descobri Pidrinha. E entre as simples mas deliciosas canções que formam o CD (Um Morna d'Certeza também toca em repeat) lá estava...É Morna, na voz do trovador que me inquietara naquela madrugada de há mais de um ano.
Lendo. Li, e voltei a ler, a crónica de Marilene Pereira n' A Revista. Sobre esse mal que parecia coisa distante, coisa de sociedades moderníssimas e corrompidas pela ambição e pelo materialismo exarcebado. A crónica falta de tempo.
Dei por mim a reconhecer-me em alguns traços do retrato que ela pintou do tal personagem, o Filó. Sim, eu também de vez em quando embarco nessa correria de fazer isso e mais aquilo, trabalhar, estudar, não sei que mais...e lá se vai sacrificando aquelas coisas que nos parecem pequenas, ou que pensamos que depois havemos de arranjar tempo para elas...mas às vezes já não chegamos a tempo, pois não?
Recentemente sacrifiquei um par de coisas que queria muito fazer e que sei que de certa maneira me enriqueceriam. E ficou-me um gosto amargo na alma. Tento consolar-me, pensando que há compromissos que se tem de cumprir. Não podemos simplesmente rebelar-nos e quebrar certas correntes que nos prendem, porque essas correntes são, afinal, a nossa rede de segurança e corremos o risco de ao libertarmo-nos delas por um dia, por umas horas que seja, ficarmos indeterminadamente sem a tal rede de segurança. E então? Então somos mesmo escravos. Escravos do nosso trabalho, das contas que temos que pagar no fim do mês, das notas que temos que obter nos testes...Claro que há alguns privilegiados que não tem que prestar contas a ninguem do seu tempo e podem fazer dele o que bem entender.
Mas, ainda assim, não deixa de ser verdade que às vezes podemos mesmo mandar a aula do dia à fava, esquecer o capitulo de hoje da novela e preferir antes uma boa conversa, uma exposição que amanhã já não estará lá, uma companhia que não sabemos se teremos sempre.

1 comentário:

Rosario Andrade disse...

Bom dia Kamia!
Finalmente regressaste ao activo! Já estava com saudades!
Desculpa não ter respondido ao desafio... é mau feitio mesmo. ehehe!
Bjicos anchos!