terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Eu e a mania da Crítica

Escrever e ver fimes são duas coisas que sempre gostei muito de fazer. Aliás, muitas das primeiras histórias que rabisquei tinham forte influência dos filmes que eu via (principlamente os de aventura, tipo Guerra das Estrelas e Indiana Jones). Portanto, eu com uns oito anos já era completamente fascinada pelos filmes, tanto que muitas vezes a minha mãe dicidia que determinado filme não era apropriado para a minha idade e eu insistia em ver, comprometendo-me a tapar os olhos nas cenas "proíbidas" . Aos 10, escrevia em cadernos o nome de todos os filmes que ia vendo (destacando aqueles que via no cinema, que acontecimento especial, meu Deus!). Anos depois já reservava páginas da minha agenda para escrever parte da ficha técnica do filme (titulo, relizador, actores principais) e classificava com adjectivos (Bom, Magnifico, Mau, Fraco… eu achava quase todos os filmes Muito Bom ou Magnifico. Só para terem uma ideia eu vivi anos convencida de que Dirty Dancing era um dos melhores filmes de sempre), e depois justificava com uma ou duas frases a classificação que atribuia. Geralmente, eu me ficava por comentários à historia em sí. Nessa altura, como é normal, os aspectos técnicos nada me diziam (os planos utilizados, a fotografia, o desempenho dos actores, a montagem…) e, claro, a única coisa que eu sabia de História do Cinema era o pequeno texto que liamos na aula de Português, sobre a primeira exibição de filme feita pelos irmãos Lumiére, em França.
Não sei se os meus irmãos e primos se lembram mas, lá em casa, nas noites em que passavam filmes, lá estava eu instalada frente à TV com um caderninho na mão, prestando atenção ao genérico do filme para tomar nota do nome do filme, dos actores, do realizador, etc.

Um dia, devia ter uns 12 nos, vi na televisão Jesus Christ SuperStar (de Norman Jewison). Na agenda escrevi pela primeira vez um comentário sobre a música no filme. Eu já tinha visto outros musicais mas esse era diferente. Eu não sabia explicar mas o filme mexou comigo. Passei dias e dias a trautear o pouco que fixara dos diàlogos musicados. E a partir daí, fosse o filme um musical ou não, eu sempre prestava atenção nas musicas e escrevia algum comentário.

Com os anos, os meus comentários foram se tornando mais ricos, se posso assim dizer. Pelo menos já fazia paralelismos entre o que via nos filmes e a vida real, já analisava um pouco os sentimentos que me despertavam. Mas foi quando fui viver em Portugal que tomei pela primeira vez contacto com a revista francesa Premiére. Percebi que o que eu tentava fazer era escrever critica de cinema. Fiquei fascinada com a revista e sempre que podia ia a livraria do shopping ler de borla o que se dizia dos filmes, mesmo aqueles que eu não tinha visto nem ia ver. Mas foi aí que comecei a ver filmes que de outra forma não me interessariam. Eu raramente via filmes onde não houvesse pelo menos um nome conhecido e qualquer filme que não fosse americano provocava-me desconfianças. Mas graças á Premiere eu começei a descobrir outros filmes e tive também que aprender a ir ao cinema sozinha pois havia filmes que eu sabia que as minhas habituais companhias não estavam dispostas a gastar o nosso dinheirinho da bolsa a ir ver.
Em 2000 a Premiére passou a ter edicção portuguesa e eu comecei a colecionar a revista. João Lopes, Rui Brazuna, Rui Pedro Tendinha e outros juntaram-se a Olivier de Bruyn, Nicolas Schaller, Christian Jauberty, etc. como os meus opinion makers de eleição. Mas tal não significava que eu me abstinha de formar o meu próprio juízo sobre os filmes e não raras vezes tinha ( e continuo a ter) pontos de vistas diferentes dos deles. Mas foi com eles que aprendi o que é isso de escrever critica e que começei a procurar melhorar os meus textos sobre os filmes que mais me despertavam a atenção (por essa altura eu já via tantos filmes que não conseguia escrever extensamente sobre todos, mas escrevia muito, principalmente porque qualquer tentativa de conversar com alguem mais profundamente sobre um filme era recebido com aquele olhar. Aquele olhar “lá está esta a amar-se em intelectual e a tentar mostrar que sabe mais que os outros”).
Nesses anos também ganhei consciência da bagagem que me faltava (e ainda falta) mas arragaçei as mangas e parti à descoberta. Quanto mais eu descobria sobre o Cinema, a sua história, as escolas, os movimentos, os nomes, as técnicas, mas fascinada ficava.Hoje em dia, continuo neste processo de descoberta: leio muitas críticas (os brasileiros Pablo Vilhena e Rubens Ewald Filho, o americano Roger Ebert, João Lopes, etc.), leio crónicas e artigos sobre cinema (e não só sobre filmes) leio livros de cinema a que consigo deitar as mãos; neste momento tenho duas bíblias O Guia do Cinema – Iniciação á História e Estética do Cinema de Gaston Haustrate e Signos e Significação no Cinema de Peter Wollen e, claro, vejo o máximo de filmes que posso (uma média de 6 filmes por semana).

Ainda assim, o caminho a percorrer é longo. Preciso ler mais, preciso enriquecer a minha bagagem de clássicos, preciso aprofundar o pouco que sei do cinema do mundo, actualizar constantemente o conhecimento das técnicas, apurar a sensibilidade para as diversas linguagens cinematográficas…tudo isso que tenho procurado fazer autodidaticamente. Quem sabe um dia eu tenha a oportunidade de estudar e tornar-me critica profissional.Quem sabe…
Para já, sou apenas uma cinéfila que juntou duas das coisas que mais gosta de fazer: ver filmes e escrever. Há quem ache que eu o faço minimamente bem. Algumas pessoas (três ou quatro, vá lá, não estou a ser basofa) me disseram que gostam do que tenho escrito no A Semana. Sei que há mais pessos que gostam, assim como sei que há aqueles que não gostam e entre estes, há os que não gostam porque acham que eu não escrevo bem e há os que não gostam porque pensam: quem é esta agora para estar a falar nisso? Quem é esta armada em especialista? Pensa que só ela sabe do assunto…Não é assim minha gente? Não é assim que funciona a cabecinha de muita gente por estas bandas?
Ah! Já me esquecia do grupinho Internet! Sim, aquele grupinho de pessoas que sempre que aparece alguem que demonstre um minimo de conhecimento sobre algum assunto (geralmente algo de cariz internacional, isto é, algo que não seja tipicamente cabo-verdiano), seja literatura, artes plásticas, música ou cinema, declaram que tal conhecimento foi sacado á internet. Se alguem menciona pintores famosos e enumera as técnicas…sacou no google;se alguem cita autores clássicos…foi ao google; se alguem sabe o nome de directores de fotografia de filmes e o responsável pela banda sonora…só pode ter recorrido ao google!
Antes de existir a internet, antes de muitos de nós termos acesso a ela, alguns de nós já sabiamos uma ou duas coisinhas aprendidas por outras vias. E o que tem alguem aprender coisas na Internet? Como pode ser reprovável alguem fazer uma pesquisa no google ou consultar uma enciclopédia virtual para saber algo que não sabe?! Que interessa onde e como se aprendeu desde que se aprenda. É preferivel continuar na ignorância?Tss…

Voltanto à minha mania e atrevimento de escrever sobre os filmes que vejo e para terminar este texto que já vai longo ( e pretensioso): não sou de facto especialista no assunto (longe disso) mas enquanto fazer este exercício me der prazer continuarei a faze-lo. Num jornal ou noutro. Nos meus cadernos e diários, que seja. E sabem que mais? Mando a modéstia à fava e escrevo aqui que me dá um grande prazer saber que esses meus textos –com mais ou menos qualidade - permitiram a alguns (dois, três… não importa) começar a ver os filmes com outros olhos. Não com os meus olhos. Simplesmente com olhos de ver. Ver e sentir, pensar e não apenas olhar por olhar. Só por isso já vale a pena.

4 comentários:

Mário Vaz Almeida disse...

Bem fladu, Kamia. Estamos juntos. Mas gostaria de te dar uma achega: não considere certas críticas, não ligue áquela turba de orcs da cena cultural caboverdeana. Ao fazê-lo estarás a nivelar por baixo e isso é desgastante. Que se lixe a modéstia, sim.

Pinguim da Neve disse...

Kamia, além de ter vivido 3 anos no teu país (que agora é um pouco meu também) temos ainda em comum o gosto pelos filmes, pela escrita e pela escrita sobre filmes. M gosta tchéu de bo Blog sopafla... Mantenhas

sonhadora disse...

Kamia, vêm aí os Óscares ainda não vi um comentário teu.Estou curiosa pelas tuas previsões quase sempre ceteiras.Também estranhei não teres falado dos Globos de ouro nem dos Grammys, que como sabemos são antevisões daquilo que serão os`Òscares.
E por favor, continua a falar de cinema e não ligues às línguas viperinas!

Kamia disse...

Atrasada, mas não posso deixar de agradecer aos comments.
Engraçado Mário, eu tb uso a expressão orcs para designar certos espécimes que as vezes me aparecem pela frente :)
Pinguim tenho que conseguir tempo para explorar om mais alma o teu iglo :) Tks por passar por cá.

Patricia, respondo-te aí em cima, okay.