terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Cortejos

Era tarde de Domingo. O cortejo seguia pela avenida. Começava a contornar a rotunda junto ao estádio da Várzea. Era o carnaval dos miúdos do jardim infantil. Olha a cabeleira do Zézé, balões, realeza no andor, fitas coloridas, odaliscas e samurais. E então, do outro lado da avenida aparece outro cortejo. Fúnebre. Passa a comitiva a caminho do cemitério. Cala-se a música. Fecham-se os rostos.
No carro que leva caixão, uma mulher chora e olha para as meninas fadas e meninos camponeses. Os acompanhantes do enterro olham com curiosidade a comitiva carnavalesca que lhes devolve o olhar.
De um lado vinha o riso, do outro marchava a dor. É a vida. E a morte.

1 comentário:

Ulisses Português disse...

…dois cortejos celebrando a vida e a morte, dois mistérios que estamos condenados a perseguir com todo a força da nossa mente e toda magia de todas as forças ocultas que povoam nossos mundos, dois cortejos todos vestidos a rigor, o rigor que situação impõe, não será a morte o culminar de um etapa da existência? por que se alma é eterna a matéria também o é, ambos mudam o estado e não a essência, queria eu morrer num dia como esse, para que a minha morte não fosse uma perda mas que misturasse com o cortejo carnavalesco de um ano qualquer, mais um bloco, fadas, índios, pierrots, serpentinas e batukadas, toadas, choros e coros, fantasias que povoaram meu ser…

Ulisses Português