segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Urbanidades

Sábado, entre as 12h e as 12h30. Chego à paragem de autocarro junto à esquadra policial do Palmarejo, a última antes de se sair do Palmarejo. Na paragem estão cerca de dez pessoas que se precipitam para o Autocarro 10, acabado de chegar. O autocarro não está completamente cheio mas, com o número de pessoas que entram naquele momento, fica lotado pelo que nem tento entrar.
Dicido aguardar pelo próximo, que deverá estar a chegar. O controlador da Moura Company (que fica na paragem a dar instruções aos condutores quando estes chegam) deve ter calculado o mesmo e dá ordem ao motorista do autocarro abarrotado para aguardar.
Pouco depois, chega outro Autocarro 10 com cerca de oito passageiros sentados. O controlador faz sinal e o motorista manda descer os oito passageiros e indica-lhes o outro autocarro, superlotado. Eu, que já ia a caminho do autocarro semi-vazio paro, estupefacta, e fico a olhar com cara de idiota para os passageiros que descem, como se nada fosse, e correm a apertar-se no primeiro autocarro. Não resisto e interpelo algum deles:
- Mas voces vão mesmo descer?! Voces já pagaram os bilhetes, estavam bem instalados e vão descer para irem se meter ali, apertados como animais a caminho do matadouro?!
Ninguem me responde. A porta do autocarro fecha-se e há pessoas coladas aos vidros, braços que saem pela janela e até passageiros no colo de outros que vão sentados. O autocarro parte e eu fico lá sozinha com o controlador que, perante a minha cara (que deve transparecer a estupefacção e raiva que sinto) atira-me um sorrisinho sacana e triunfante.
Espero mais quinze minutos, até que chegue o autocarro que fora esvaziado, e que dera meia volta de regresso às ruas principais do Palmarejo. Vem outra vez semi-vazio e eu entro, já sabendo o que me espera. Mais cinco minutos parados á espera de encher outra vez. Pela janela lanço olhares faiscantes ao controlador. Não sei o que lhe dá que, pouco depois, manda seguir. O autocarro tem todos os lugares sentados ocupados e um par de pessoas de pé. Fico aliviada mas a remoer na capacidade que as pessoas têm de serem uns carneiros duma figa, passivos e sem amor próprio, para aceitarem ser tratadas como animais.
Que eu e mais duas pessoas reclamem, infelizmente, não vai adiantar de nada. O tal senhor Moura há de aparecer no jornal a lavar as mãos e a dizer que a culpa é dos condutores broncos e sem intrução. E os condutores analfabrutos vão continuar a meter gente nos autocarros como se fossem gado sem que ninguem se importe.E tudo isso nas barbas da polícia.

O dinheiro que eu gasto com táxis por mês - porque na cidade capital do país o único serviço de transportes públicos é uma bosta - já dava para comprar um carrinho usado ao fim de um ano. Um lindo carrinho...que eu ia espatifar em dois dias nas ruas esburacadas da Praia. A sério, aos fãs de desportos radicais eu recomendo vivamente a principal "avenida" do Plateau. Para além de buracos em toda a sua extensão também pode-se admirar pela janela os buracos nos passeios (isso quando não estão tão ocupados por vendedeiras que nem se pode ver um pedaço de passeio) e claro, o lixo nas bermas que confere um colorido tão especial, tão...
Caramba, para que estou eu aqui a cansar-me com isso? Por acaso alguma coisa vai mudar?
UPDATE
Sim! pelo menos no que toca ao estado das estradas parece que finalmente vai se fazer qualquer coisa. Foi com satisfação que fiquei a saber que na próxima semana vão arrancar as obras para a esfaltagem das outras vias principais da cidade que não foram contempladas na "primeira volta", Plateau inclusive (Av. Amilcar Cabral, suponho).
Bem, finalmente. Foi preciso a campanha eleitoral estar mesmo a porta para se mexerem mas...mais vale tarde do que nunca.

1 comentário:

Benvindo Chantre Neves disse...

... e que dizer daquele passageiro que, assistindo ao resmungar de um outro utente que se sentia sufocado com tanta gente no autocarro, remata:
- "sócio, si bu ca crê munta autocarro, bu panha taxi!"
Enfim, coisas de consumidor