sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Urbanidades

Bianda. Sábado passado fui ver a exposição do César. Eu sabia que a abertura ia ser especial, com leitura de poemas e tudo, mas não foi suficiente para vencer o meu hábito de fugir às aberturas ( a única excepção é a abertura da Feira do Livro). Gosto mais de ir ver as obras expostas quando elas estão sós. Eu e elas e o silêncio.
Gostei das fotografias do César. O estranho (ou talvez não, que sei eu?) é que gostei mais delas por algo que não aparecia nelas. É que em cada uma delas eu "via" mais o fotógrafo, o César, do que aquela gente ali retratada. Via o César de máquina em punho percorrendo aquelas praias debaixo do sol abrasador, procurando a lugar certo, o objecto certo, o momento certo para disparar. Via-o a suar um pouco, com areia nos pés, vontade de pousar a máquina e ir dar um mergulho. Via-o a disparar vezes seguida em direcção a um grupo de pessoas enquanto imaginava histórias para cada uma delas.
As fotografias do César devem contar algumas histórias. A que eu vi/imaginei foi a história do César ao tirar aquelas fotos.
Sniffers.No outro dia li uma matéria interessante no Jornal de Cabo Verde, sobre toxicodependentes. Tinha estatísticas do INE e tudo. E tinha aquele retracto habitual do consumidor: "zés ninguem", lavadores de carro, pescadores... por aí.
O que ficou de fora, mais uma vez, é aquela tribo urbana, malta queque, betinhos, copu leti ou chávena de chá (whatever)... aquela tribo dos barzinhos da moda, que anda a meter pelo nariz coisa mais sólida do que cheiros. Alguns desses filhinhos de papai e wannabe copus andam na vida loca reservando os fins de semana para meetings de cheiradelas colectivas. A coisa já está num tal ponto que não conseguem divertir-se na noite sem o empurrão do pózinho mágico, sendo que alguns chegam ao ponto de ficar com as vias respiratórias entupidas.
Os dealers é que devem andar a esfregar as mãos de contente com esta clientela vip que tem dinheiro suficiente (ou têm os papás) para consumir discretamente. Com empregos respeitáveis, vestindo roupas de marca e cheirando na privacidade dos seus T3, quem vai incluí-los em alguma lista de toxicodepentes?
Lonji. Amanhã Tcheka vai estar no Auditório Nacional a apresentar o seu novo trabalho. Como sempre, o auditório deverá encher para ouvi-lo.
Estou curiosa por ouvir ao vivo as músicas de Lonji, de que cada vez gosto mais. Penso que a contenção (e não tristeza) com que ele interpreta alguma das músicas ficou-lhe bem. As "explosões" estão nas músicas onde têm que estar e por certo as haverá no show de amanhã.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais do que gostar deste post achei que deixaste bem explicito a hipocrisia que se vive em ilhas crioulas!Essa hipocrisia que existe exculsivamente para acobertar aqueles que fazem parte da Elite Cabo-verdiana!