sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Retrato falado

Interessante o Djoy ter ido buscar, lá no Fladu Dja Dura, o meu primeiro post ao voltar a Cabo Verde.
O retrato que eu fiz na altura quase que permanece o mesmo: desenvolvimento por um lado (basicamente no que se refere às infraestruturas e serviços) mas por outro...caos (principalmente no social).
De resto, estamos em época de retratos à nação, que na hora de pôr o dedo na ferida se confunde com Praia, não fosse a cidade capital a que dita o ritmo do arquipélago: O César fez o seu no A Semana.cv e o Liberal importou um artigo dum jornal francês que deixa qualquer um de coração apertado.
Sempre que alguem fala/escreve de Cabo Verde em termos negativos a coisa é politizada; é porque a pessoa só pode ser da oposição para estar a apontar os podres. Bem, se não ficou já bem claro nos quase quatro anos deste blog, digo-o aqui com todas as letras: eu não tenho partido político. Não sou PAICV, nem MPD. Claro que admitir isso não irá propriamente abrir-me portas (porque normalmente só admite isso quem já está bem instalado na vida e já não precisa de ter connections). Mas provavelmente também não as irá fechar já que eu não passo de uma joana ninguem.
E é como joana ninguem, sem partido político, sem religião e até mesmo sem clube de futebol (caí em mim e percebi que é rídiculo estar a torcer por um clube só porque, no tempo dos meus pais, o meu país fazia parte de outro país e aí por diante...se deixámos de decorar os nomes dos seus rios porque raio não havemos de nos desligarmos dos clubes? Está bem, o facto do Benfica hoje em dia estar uma bosta também contribuiu para a minha epifania!).
É como joana ninguem dizia eu, que infelizmente tenho que dizer que há muita verdade no retrato escrito de Cabo Verde feito pelo tal jornal francês.
Há gente a delirar com dígitos a mais e a menos e a exibir mega projectos, a falar em sofisticação e que simplesmente não admitem ouvir falar das fossas a céu aberto, das valas cheais de lixo, das vacas que se passeiam nas ruas principais, da violência dos assaltantes, dos meninos de rua que vagueiam pelo Palmarejo e pelas rua do Mindelo a pedir moedas, dos desempregados...porque se falas disso és do raio da maldita oposição!
Eu sou oposição sim. Eu me oponho a que nos deixemos deslumbrar pelos elogios das entidades internacionais, eu me oponho a que os ganhos em determinadas áreas nos façam fechar os olhos às fragilidades de outras, eu me oponho a que nos contentemos com estradas asfaltadas e aeroportos novos quando o lixo torna cidade da Praia tão feia e em São Vicente os jovens se ficam pelas esquinas, sem trabalho. Eu me oponho a que Maio, S. Nicolau e Brava sejam esquecidas e avancem a passos de caracóis. Eu me oponho a que durante três anos e meio pouco se faça e em vésperas de eleições comecem a "pipocar" obras. Eu me oponho a que os da oposição passem anos a criticar e quando/se lá chegarem façam exactamente o mesmo.

2 comentários:

Djoy Amado disse...

Isto é que é desabafo!!

Olha, às vezes, as pessoas pensam que Cabo Verde tem um só governo e que quando resolvemos criticar o que se faz na política é porque estamos, necessariamente, a criticar o governo central. Mas este país tem 23 governos, 1 central e 22 locais, com diferentes cores políticas. E mais, há também 23 assembleias legislativas, 1 nacional e 22 municipais (em São Vicente, por exemplo, para a aprovação do Orçamento e do Plano de Actividades, Isaura Gomes precisa de votos de outras bancadas que não a do seu partido).

Isto para dizer que a crítica que se faz à sociedade política deve ser encarada como um acto de cidadania, não um julgamento político. O problema é que a nossa sociedade ainda está muito politizada para poder fazer essas distinções.

Feliz 2008

Anónimo disse...

E o que muitas vezes nos falta e´que o povo tome corajem, deixe a preguiça de lado e pare de dizer "no taba ta guenta" para nao so criticar o governo, como fazer algo para que o governo faça que "algo" mude.