terça-feira, 27 de setembro de 2005

O CINEMA POR CÁ


@ Lá fora começam as estreias da chamada rentrée cinemátográfica, que marca a passagem dos blockbusters da silly season para os filmes mais "sérios" do Outono, que normalmente perfilam-se como potenciais candidatos aos óscares. De entre os títulos mais aguardados contam-se King Kong de Peter Jackson (com Naoimi Watts e Adrien Brody) - vi o trailler há dias e a coisa promete - , Elizabethtown ( de Cameron Crowe),Capote (filme indepemndente com Phileppe Saymmor Hoffman e Catherine Keener),A History of Violence (de david Cronenberg), entre outros.

Aqui em Cabo Verde vivemos em permanente verão cinematográfico. Já cá estou há um ano e pelas salas continuam a suceder-se "filmes para pipocas". São na sua maioria filmes de acção, dividindo-se entre a vertente mais leve, de série A (como é o caso de Man on Fire com Denzel Washington,Sahara com Mathew Macaunahgey e o mais recente War of the Worlds com Tom Cruise) e a mais dura ( com estrelas do género, como é o caso de Jet Li e Van Damme). Também tivemos a nossa dose de terror q. b. (A Vila, Underworld,Alien vs Pradedor...), comédias para adolescentes (Mean Girls). Enfim, já perceberam, não?

Títulos mais "sérios" de filmes que receberam boas críticas e ganharam prémios internacionais ficaram por estrear. Exemplos: Million Dollar Baby, Ray, Hotel Rwanda,Closer, Sin City, Charlie and The Chocalate Factory...

No meio deste cenário, salvou-nos o Kafuka Cineclube da Praia que , tendo entrado nos eixos, proporcionou ao público acesso a um outro tipo de cinema, exibindo clássicos de diversas nacionalidades, filmes de autor, cinema independente e também filmes infantis.

Bem, resta-nos o DVD. Abdicando da panôramica do grande ecrã e de uma maior fidelidade sonora, temos pelo menos a possibilidade de asistir a títulos " frescos". Pondo de lado os escrupulos, embarcamos na pirataria ( é o que nos oferecem os videoclubes,que remédio...). No meio dos milhentos que polulam por aí, oferecendo cópias de péssima qualidade (daquelas em que se vê as cabeças das pessoas na sala de cinema e se ouvem os risos), eu tive a sorte de descobrir um videoclube onde a maioria dos DVDs são originais e mesmo os que não são, são descarregados da internet com grande qualidade e trazem os extras todos, e o menu inclui opções audio e de legendas.

Só assim, para se ficar a par dos momentos cinematográficos que vão marcando o ano ( como a vibrante composição de Ray Charles by Jammie Fox, a "dança" de Clint Eastwood em frente a um ecrã de televisão assistiondo a uma luta de box, o transformismo de Gael garcia bernal em Lá mala Educacion...Momentos imperdíveis.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

ACONTECE


@ Já vai a meio a edição de 2005 do MidelAct, cada vez mais prestigiado e, diga-se de passagem, merecidamente. De ano para ano, o único festival de teatro de Cabo Verde ganha mais visibilidade, qualidade e apreço do público. O evento tem crescido bem e começa a ramificar as actividades que oferece a outras vertentes que não só a exibição das peças teatrais. Por exemplo, este ano, o MindelAct envolve também uma mostra fotográfica cuja temática são as peças exibidas em anteriores edições.
Tenho pena de não poder lá estar e, mais ainda, de que não se faça nada parecido cá na Praia. Aliás, porque não trazer o MindelAct um dia destes á Praia? Sim, uma visita...
Temos que dar mão á palmatória de que o teatro em Santiago está a léguas do que se faz em São Vicente. Continuamos a insistir em teatro com temática social ( peças pedagógicas sobre alcoolismo, sida, droga,etc) e que, obrigatoriamente, tem que resvalar para a comédia, para assim agradar ao público. Mas, felizmente, este estado de coisas parece estar a mudar com o surgimento de novos grupos de teatro que começam a apostar numa nova abordagem. Contudo, daí até ter grupos internacionais a actuar aqui...



@ Como tinha prometido, deixo aqui o meu comentário a Equador, o primeiro romance de Miguel Sousa Tavares. Talvez mesmo por ser o primeiro, MST não se arrisca muito no que se refere á escrita em sí. Não temos em Equador nenhum rasgo de génio, nenhuma técnica original que deixe marcas e crie escola. Mas a estória compensa. A riqueza da discrição espácio-temporal e a composição dos personagens, provavelmente frutos da intensa investigação da época retratada, consegue nos transportar e agarrar a uma estória que do principio ao fim nos deixa um travo amargo na alma mas da qual não nos conseguimos desprender até ao fim. Um fim, diga-se, que faz lembrar exactamente os romances trágicos e fatalistas do Romatismo português.
Gostei de Equador. Lê-se bem. Mas, arriscando-me a ser "crucificada", palpita-me que daqui a três anos não me vou lembrar deste livro, assim, sem nada que mo faça lembrar...percebem o que quero dizer?



@ Na Holanda, discute-se a estreia de um novo reality show onde um casal de lésbicas irá escolher o doador de esperma ideial para engravidar a "mãe de aluguer" por elas contratada.
Em Portugal, a SIC prepara-se para estreiar um programa que transformará homens casados em travestis.A mesma SIC, apresentou em directo a implosão de duas torres em Tróia, estragando várias camaras para conseguir diferentes angulos e planos da destruição.
E assim vai a televisão pelo mundo.Pergunto-me, é o público que está sedento deste tipo de conteúdos (respondendo as televisões aos seus anseios), ou são estes os conteúdos que as televisões lhe impõe (criando neste hábitos e exigências de gosto duvidoso)?

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

MÚSICA PARA A ALMA


@ Ando um bocado depré com as desgraças que vão por este mundo fora (New Orleans, Iraque, Paris...)e procuro conforto na música. Como muitas vezes acontece, sinto que a minha "cedeteca" está a carecer de novidades, por isso faço uma nova aquisição. Preconceituosamente (admito), não sou muito de comprar CD's originais cabo-verdianos. Mas esta foi uma das excepções, e estou contente por a ter feito.
O CD de Vadú, Nha Raíz,é a prova acabada do seu talento.Sem uma grande voz, que marque a diferença, Vadú tem, no entanto, uma força interpretativa, uma adrenalina, que contagia.As composições são muito boas e embora, com pena minha,ele não toque guitarra no CD, está muito bem servido de músicos que ele, humildemente, reconhece serem melhores que ele.
Passei o fim de semana a cantorolar Sosiedadi, Ladridja bu Lagadji, Chalina e Xibioti. Estas duas últimas ainda não tinha ouvido. Amei.


@ Navego na net e descubro sítios onde posso ouvir a música que não tenho e que nem tão facilmente encontro aqui na Praia. Frank Sinatra a cantar Tom Jobim (disco Francis Albert Sinatra e Antonio Carlos Jobim). Girl from Ipanema na voz do "Blue Eyes" é delicioso mas, continuo a preferir a versão original de Garota de Ipanema. Depois, passo para Diana Krall e deleito-me, não com os CD mais actuais mas, re-descobrindo When I look in Your Eyes.

@ No momento em que escrevo estas linhas, descobri uma "ilha" neste mar que é a web, onde posso ouvir as Selmasongs inteirinhas. Selmasongs é o CD da Bjork, banda sonora do filme Dancer in the Dark (1999, do dinamarques Lars Von Trier, do movimento Dogma). Não sei porquê, nunca saiu da minha lista de CD's a comprar para a minha modesta "colecção" de Bandas Sonoras. Mas ainda há tempo. E, entretanto, vou ouvindo por aqui mesmo a Duende Islandesa ,com a sua voz de menina, a cantar I've Seen it All.


@ Para um amigo meu, que disse uma vez que tenho mania de "sabichona" (moi??!? Sabichona?!?)aqui fica a prova de que, se a minha humildade não chega para declarar (como o outro) que Só sei que nada sei, pelo menos, tenho plena consciência de que há um MUNDO de coisas que não sei.Por exemplo, não fazia ideia do que era Lounge Music. Aliás, descobri há bocado que já tenho ouvido (e gostado), só não sabia lhe dar nome. E também já tinha ouvido o termo mas não sabia a que se referia.Bem, reconhecida a minha ignorância, tratei de procurar respostas.E fiquei a saber que a Lounge Music foi criada nos anos 50 como música para bares de hotéis de luxo e que já foi chamada de música de elevador.Ganhou o mundo através de CD's lançados pelo famoso Buddha Bar de Paris e o Café Del Mar.É tipo Chill Out Music.




@ Bem, o fim de semana também dediquei-o á leitura. Já vou a meio do Equador de Miguel Sousa Tavares.Deixo os cometários para quando o terminar. Mas...ou MST descreve com verdadeiro realismo a atmosfera sufocante de São Tomé e Príncipe ou Praia está realmente quente demais. Nem depois da chuva arrefece! Como diz um conhecido meu, "é do pecado". Há demasiado pecado nesta cidade.LOL. Praia, Sin City?

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

FIM DE FÉRIAS


*Depois de uma ausência de cerca de três meses o SoPaFla está de volta. Sim, para felicidade geral da nação,a partir de hoje retomo aos meus posts! E começo por pedir desculpas por esta longa ausência, estas férias que não foram exactamente programadas.Peço desculpas, principalmente, por ter sido uma ausência não anunciada.Devo dizer que fiquei lisonjeada com as abordagens directas e os e-mails que recebi de pessoas a querer saber se esta paragem era definitiva e a incentivarem-me a continuar.
Pois bem, para o bem e para o mal, o SoPaFla está de volta e, se Deus quiser, veio para durar.


*E então, o que tem acontecido desde que esta escriba arrumou o teclado? Deixa ver... houve o Caso Querido (que misteriosamente desapareceu da imprensa nacional, desde então), houve as monumentais festas da comemoração dos 30 Anos de Independência de nação,aconteceu um pseudo-Festival da Juventude, Cabo Verde foi considerado o País mais Bem Governado de África em 2004,debateu-se o estado da Nação,as chuvas chegaram (e esperemos que continuem até á altura devida), nasceram novos municipios (e, a partir de amanhã, teremos uma nova cidade),rebentou mais um escandalo político (foi assim que o pintaram) envolovendo uma violação ou pseudo-violação,a Electra continua a nos "beneficiar" com apagões fracassou o Baía das Gatas... enfim, muito mais tem acontecido por aqui e por além. E mais há para acontecer, por isso assunto não me há de faltar.


*Eu tinha planeado voltar as lides com um post a falar sobre o estado da Nação, do meu ponto de vista. Mas tanto se tem falado sobre isso, tanto são os estados que já se pintaram desta nação, que resolvi me abster. Mas não posso deixar de comentar o retrato feito por José Maria Neves e Agostinho Lopes. Como não podia deixar de ser, os dois têm opiniões absolutamente diferentes sobre o estado em que Cabo Verde se encontra: para AL estamos em oito e para JMN em oitenta.
Ora, o MPD não se decide. Diz que o país está péssimo como nunca esteve,aponta os buracos da governação do PAICV mas depois,como que reconhecendo que afinal há progressos, vem dizer que estes só existem por causa das bases deixadas pelo MPD, quando esteve no poder.Bem, parece-me que quando dizem que o que de bom tem acontecido é resultado das sementes que plantaram estão a reconhecer que afinal nem tudo está tão negro como o pintam.É então uma questão de autoria. Mas por essa lógica, temos que parar um minuto para pensar que se as coisas positivas são herança do passado ventoínha, ás más também não o serão (estou a pensar, por exemplo,na situação da Electra)?
Por outro lado, temos o discurso de JMN, que não consegue disfarçar a vaidade ao dizer que o país está num estado auspicioso, que Cabo Verde está na moda e enumera, vezes sem conta, os ganhos que - verdade seja dita - o país obteve. Mas, devo dizer que, se eu fosse o cidadão que chega á noite em casa e econtra-a ás escuras como na noite anterior (e como por certo estará daí a dois dias), se eu fosse o estudante que depois de um ano a esfalfar-me para ter boas notas e depois não conseguisse uma bolsa ou vaga para continuar os estudos nem um trabalho, se eu fosse aquele que mora num buraco de cimento numa "rua" sem calçada, sem luz e cheia de lixo, se eu fosse o recem - licenciado que fica longos meses á espera de um emprego enquanto uns e outros acumulam cargos... se eu fosse qualquer uma destas pessoas, até raiva sentiria ao ouvir o orgulho com que o nosso PM diz que o país está num estado auspicioso.

Portanto, calma. Contenção. Sim, é verdade que estamos a progredir. Mas, contenhamos-nos um pouco ao lançar foguetes, quando muito não seja para mostrar um pouco de solidariedade com aqueles que não estão a beneficiar deste estado de graça em que CV se encontra. Porque o sol não pode brilhar só para alguns.
Eu, que há meses senti-me um tanto revoltada com o retrato feito de Cabo Verde numa reportagem internacional, confesso que senti vergonha quando, há dias, passei por um painel a anunciar lotes para venda num futuro resort de luxo. Portanto, chegamos lá. O fosso está a se alargar. Vamos ser a nova Angola dos PALOP, com milionários instalados em condomínios de luxo e favelas desencatadas ao longe.
Mas deixa lá, é o desenvolvimento.Agora somos PDM. Para o bem e para o mal.