terça-feira, 31 de outubro de 2006

Caça às bruxas ou Moda passageira?

Estamos todos carecas de saber o quanto a sociedade cabo-verdiana é influenciada pelas telenovelas brasileiras. Nas rádios, as músicas que mais tocam são as da novela do momento; as roupas e os acessórios (principalemnte femininos) seguem as tendências das novelas e até os comportamentos e as atitudes acabam por ser influenciados pelos temas abordados nas novelas.
A maior parte das vezes essa influência é inofensiva, sem grandes consequências. Mas depois há coisas que podem assumir proporções assustadoras.
Sexta-feira, durante um trajecto de autocarro, ouvia a conversa de três raparigas, talvez de uns 15/16 anos. Não dava para não ouvir porque toda gente sabe como os estudantes falam nos autocarros. Bem, a conversa era sobre uma outra colega, ausente. Duas das meninas estavam a tentar convencer a terceira de que a colega ausente era...lésbica. A rapariga não queria acreditar e rebatia as "provas" que as duas lhe apresentavam. E que provas eram essas? Prova A: ela era esquesita; Prova B: ela não tinha namorado; Prova C, e para elas a decisiva: ela olhava muito para as outras meninas. A colega a quem tentavam convencer, rebateu todos os indícios, dizendo que ela era esquesita porque era tímida, não tinha namorado porque era tímida e olhava para as outras meninas porque tinha complexos com o seu corpo e estava sempre a olhar para as outras para comparar-se.
Bem, escusado será dizer que as duas acusadoras não se deram por convencidas, pelo contrário, começaram a implicar com a colega porque esta era muito amiguinha da pseudo-lésbica e estava a defendê-la demais. Nesse ponto, a menina ficou visivelmente chateada, começou a defender-se dizendo que não era tão amiga assim da acusada, que nem falava com ela há um bom tempo...
As outras duas continuaram na risota, dizendo para ela ter cuidado porque a menina de quem estavam a falar era...como o Júnior da novela (!). Depois, uma delas ainda lembrou-se de corrigir: Não, ela é mulher. É como a Clara daquela outra novela, Mulheres Apaixonadas.
A conversa continuou, e quando cheguei à minha paragem, já a única que defendia a amiga ausente, estava também convertida/convencida e juntava piadinhas e analisava comportamentos da colega para encaixá-la na sua teoria da homossexualidade. Já não defendia a amiga, defendia-se a si mesma.
Eu não pensei mais no assunto, até me lembrar de uma conversa que tinha tido há uns tempos, em que falávamos exactamente dessa nova "caça as bruxas" que silenciosamente parece estar a tomar conta de certas pessoas. E não se pense que são só os adolescentes, com cabecinhas facilmente manipuláveis pelas novelas que embarcam nesse tipo de atitude. Não, há muito bom marmanjo e marmanjas que se dedicam a esse passatempo: tentar adevinhar quem é gay e quem não é e recrutar o máximo de pessoas possível para a sua causa (confirmar a gayísse do indivíduo escolhido). No topo dos indicios da homossexualidade, para estes estudiosos da sexualidade alheia,parecem estar:
1. Mulheres que não têm namorado (más noticias para as hordas de pikenas que desesperam com a escassez de macho que tem havido por estas paragens).
2. Mulheres e homens que se atrevem a ter um(a) melhor amiga(o) e a estar muito tempo com ela(e).
3. Mulheres que dançam com outras mulheres nas discotecas (muitas usam isto para provocar os homens mas parece que o tiro lhes saiu pela culatra)
4. Homens que dançam músicas de se dançar sem par nas discotecas (parece que a probabilidade de gayíficação é maior se o ritimo for samba ou disco)
5. Homens que não cedem quando provocados por uma mulher (se tiver namorada, pode escapar do atestado de gayíficação levantando a bandeira da fidelidade, se não tiver namorada e não ceder à provocação... é gay)
6. Homens e mulheres que olham para outros homens e mulheres (se tem o mau hábito de reparar nas pessoas - como estão vestidas, calçadas, penteadas, se são mais magras ou gordas do que você, desista se não quer levar com o rótulo de homo; mulheres que consultam sites ou revistas de moda cheias de actrizes e modelos e homens que consultam sites e jornais desportivos com pernas e abdominais masculinos em evidência = gays).
7. Homens artistas
8. Homens e Mulheres ninfomaniácos (pasme-se)
Enfim, há ainda muitos itens para a lista, alguns bem bizarros, se pensarmos como os personagens de Virgem aos 40 Anos que até pela maneira de jogar playstation deduziam se a pessoa era gay ou não. O assunto tem o seu quê de engraçado, mas analisando mais seriamente, não deixa de ser triste ver pessoas tão empenhadas em descurtinar a sexualidade de cada um. Não sei que proporções essa "caça às bruxas" ou moda está a atingir, mas creio que a maior parte das pessoas têm mais que fazer do que estar a pensar se fulano gosta de rapazes e sicrana de mulheres. Imagino que é dificel para um homossexual aguentar com o preconceito e a discriminação, pior então para uma pessoa que não é gay, nem lésbica, ter que aguentar com isso. Provavelmente a melhor coisa a fazer será ignorar e continuar a viver a sua vida sem dar importância, até que os "perseguidores" se lembrem de outro assunto para se entreterem.
Vamos todos torcer para que a próxima novela não traga, sei lá...canibais. Se não a nova moda poderá ser descortinar quem anda a consumir carne humana.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Round Up The Usual Suspects (11) Dose dupla, com dupla brasileira

Domingo os brasileiros votam a segunda volta das presidenciais. Lula ou Alckmin são as opções, e eu tenho entre os meus blogs de visita obrigatória dois escribas que estão em campos opostos:
No Diário de Bordo, Pablo Vilaça, argumenta a favor de Lula e explica porque vai dar-lhe uma segunda chance.
"Finalmente com oportunidade de demonstrar seu conhecimento, o presidente Lula está dando um show ao falar sobre diversas áreas de seu governo. É incrível que algumas pessoas ainda digam que Lula é burro porque comete erros de português: desafio a maioria destas pessoas a discutir em pé de igualdade com o presidente sobre os problemas da previdência, privatizações, reforma política, etc."
Já no Kafé Roceiro, o autor não morre de amores por Lula e é óbvio que não pretende votar no petista.
"Lula se esqueceu de tudo isso! Hoje ele está do outro lado. Do lado podre da banda. Como dizia o corrupto Roberto Jefferson, “não há água límpida que entre pelo esgoto e saia límpida” Creio que é só não entrar pelo esgoto, não é? Lula foi contra todos os anseios democráticos os quais defendeu na época da ditadura."
Vamos esperar para ver o que dá. Para já as sondagens parecem estar favoráveis a Lula.

Round Up The Usual Suspects (10), com blogues convidados

Pela bloguesfera fora tenho encontrado escribas tombados de encanto pelo CD de estreia de Mayra Andrade, Navega. Aqui, aqui, ali, aquém e além, todos tecem elogios á cantora e ao seu trabalho.
"(...) enquanto escrevo este post, o dedo coça quando volto a alguma faixa de “Navega”, o disco de estréia desta caboverdeana de 21 anos, com talento e beleza suficientes para tornar-se musa instantânea."
"Lá, nos céus, está alguém a escutar esta menina: Mayra Andrade" .
"(...) este é um daqueles casos em que o melhor é não fazer ruído nenhum. Oiça-se apenas esse barulhinho bom. Sabura total!"
Do CD, eu tinha ouvido apenas duas músicas (Dimokransa e Lua). Até hoje. Hoje ouvi-o todo e depois uma outra vez. E outra. Que posso dizer que já não tenha sido dito por quem faz melhor uso das palavras do que eu? Apenas que compreendo o encanto dos Ulisses da bloguesfera pela voz desta sereia das ilhas criolas. Parece-me no entanto que o encanto não é apenas pela voz. Os outros predicados da cantora também parecem ter contribuido para rendição dos senhores. :)

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Sentidos

Ouvindo. Tenho revisatado sons do passado: êxitos dos Cabo Verde Show, da década de oitenta e inicios de noventa e a banda sonora de Hable Con Ella, de 2002, que eu considero uma das melhores de sempre -e por isso sempre a ela volto - e que para orgulho de todos nós tem lá uma música de Bau.

Lendo. Terminado Dom Casmurro, voltei-me para O Amante (Marguerite Duras) mas interrompi para devorar muito rapidamente Killing Me Softly. Não há dúvidas de que os anos nos fazem ler de maneira diferente. Antigamente, eu lia em três tempos todos os livros que me caiam nas mãos. Hoje em dia, sei que há aqueles que se pode devorar rapidamente e outros, como O Amante, que se tem que ler muito devagar. Como se estivessemos a saborear um bom vinho.

Vendo. Videos no You Tube. E assim vou matando saudades do Daily Show, um fake news que deu a conhecer alguns dos mais aclamados comediantes americanos da actualidade (como Steve Carrell, o Virgem de 40 Anos) e cuja vitima preferida costuma ser o presidente Bush. Oh, se há alguem que seja bom material para comédia é mesmo George Bush.

O Verbo de Lúcia Cardoso

Ainda não ouvi Lúcia Cardoso, mas muitos que já ouviram garantem-me que ela é dona de uma voz portentosa e que põe toda a sua alma nas suas interpreções musicais.
Para já, Lúcia ganhou a minha admiração pela humildade, inteligência e humor desarmante que deixou transparecer na sua entrevista ao A Semana online. Ainda por cima, Lúcia parece ser adepta de uma filosofia que eu sempre defendo: respeitar o pensamento e as obras dos grandes, mas reinvidicar o direito de pensar por nós mesmos e dizer o que pensamos.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Musika di Tera

Sexta-feira à noite, os praienses foram brindados com dois concertos protagonizados por mulheres. O primeiro, no Auditório Jorge Barbosa, comemorava o dia da cultura nacional pela voz de Isa Pereira. O segundo, era uma homenagem de Nancy Vieira, Ritinha Lobo, Jennifer e Jerusa a Ildo Lobo, no Tabanka Mar.
Gostei muito do concerto de Isa Pereira, intimista, pleno de entusiasmo (da intérprete e do público) e espontaneidade. Isa quis casar várias expressõs artisticas e penso que o conseguiu, sem muito aparato, antes de forma singela: no entrada do auditório estava patente uma exposição de pintura, durante o espectáculo, Isa leu um poema e Eugénio Tavares e, enquanto cantava, Manu Preto dançava alguns dos temas por trás de uma tela.
Artes plásticas, literatura, dança e música... se é verdade que a música é a bandeira da nossa cultura, Isa apresentou uma paleta de sons que incluiu desde batuku, tabanka, funaná, morna, coladeira, colá e também reggae e música brasileira.
Isa esteve bem acompanhada, destacando-se no grupo de músicos, o seu irmão Valdo (cuja interpretação da versão reggae de Fomi 47 arrancou aplausos entusiasmados da plateia, merecidamente diga-se) e, claro, Ricardo de Deus, esse talento que não para de surpreender.
Bons momentos para guardar.
No Tabanka Mar, infelizmente, Nancy Vieira e companhia não brilharam tanto quanto podiam. E a culpa não é delas - longe disso. O espaço, claramente, não suporta todo o tipo de actuações. Cheio até dizer chega, não se conseguia ouvir as artistas e os seus músicos, nas condições que o seu talento exigia. Dificuldades técnicas também, pregaram partidas ás cantoras frustrando muita gente do público.
Daquilo que consegui ouvir, Jennifer continua a maltratar a sua garganta e a subaproveitar a sua soberba voz. Jerusa parece ter jazz na alma e merece oportunidade melhor para mostrar o que vale. Não ouvi Rita Lobo.Não fiquei até ao fim, incomodada por ver maltratado o talento de Nancy Vieira - de quem sou grande admiradora e cuja interpretação de uma morna que me arrepia ( É Morna, de quem é esse tema?) me comoveu.
Ainda assim, foi bom ver tanta gente a acorrer para ouvir a nossa música, ainda que muitos dos que circulam por estes eventos vão mais para se mostrarem do que para verem e ouvirem.

Cinemania



8 femmes (Oito Mulheres). França De: François Ozon, 2002/Com: Isabelle Huppert, Catherine Deneuve, Fanny Ardant, etc.***
Oito actrizes revezam-se num cenário quase teatral para desvendar um "agathachristiesco" crime. Os números musicais são delicosos, alguns dos diálogos frenéticos e viciantes e o desempenho do elenco é um tanto desequilibrado, pois enquanto sobra talento a algumas das actrizes, falta a outras (La Deneuve, a meu ver, estava desinspirada. Isabelle Huppert é A Actriz, tenho dito).
Fragiles (Frágil).EspanhaDe: Jaume Balagueró, 2005/Com: Calista Flockhart, Richard Roxburgh, Elena Anaya, etc.*
Terror xoxo, outra vez com criancinhas a ver mortos. Ainda por cima a única das crianças que tinha algum talento foi despachada a um terço do filme e como protagonista ficou outra sem carisma. Nota positiva para os cenários interiores e a caracterização da fantasma malvadona. O resto é descartável.
Gilr With Pearl Earing (Rapariga com Brinco de Pérola).EUA De: Peter Webber, 2003/Com: Scarlett Johansson, Colin Firth, Tom Wilkinson, etc.***
Como Veermer pintou Gilr With Pearl Earing é o mote para um filme arty, cujo maior defeito é exactamente esforçar-se por mostrar que é arty. Não precisava. Fotografia irrepreensível (se não me engano é do português Eduardo Serra), fazendo cada fotograma parecer uma pintura. Colin Firth contem-se muito para não fazer sombra a Scarlett Joahnson, mas os dois estão excelentes em interpretações pouco "verbais".
Find me Guilty (Mafioso Quanto Baste).EUA De: Sidney Lumet, 2006/Com: Vin Diesel, Peter Dinklage, Ron Silver, etc.**
Vin Diesel no papel da sua vida. Parece-me que ouvi falar em nomeação para Óscar. Não é caso para tanto. A interpretação está sobrevalorizada porque Vin Diesel está num registo muito diferente do que já nos habituou (trogloditas vingativos, pouco falantes...enfim). Não quer dizer que ele não vai bem. Vai bem (a forma como o seu Dinorscio oscila entre uma extrema segurança e uma fragilidade e carencia desarmantes é digna de nota) mas não extremamente bem. Peter Dinklage, o anão, rouba a cena em todos os filmes que aparece. Só os bons o conseguem.
The Magnificent Seven (Os Sete Magnificos).EUADe: John Sturges, 1960/Com: Yul Breyner, Steve McQueen, Horst Buchholz, etc.***
A versão americana de Os Sete Samurais, do mestre Kurosawa, não destrona o original mas é uma deliciosa hora e tal diálogos marcantes, tiroteios emocionantes e o carisma de interpretes lendários como Yul Breyner (fiquei tão cativada pelo charme do careca que ando á procura de outros filmes dele - 10 Mandamentos não, obrigada) e Steve McQueen.
Caro Diario (Querido Diário).ItáliaDe: Nanni Moretti, 1994/Com: Nanni Moretti, Giulio Base, Jennifer Beals, etc.***
Este é daqueles filmes que pede segundo visionamento. Nanni Moretti é Nanni Moretti e o filme é do género falso documentário. Há, quanto a mim alguns desiquilibrios entre os três episódios em que está dividida a obra, mas o conjunto é um trabalho de realização meticuloso e muito pessoal.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Sodadi




Nos Morna
Auteur: Manuel d'Novas - Interprète: Ildo Lobo


Se bô ka crê ouvi morna
Musica rainha di nos terra
Ranca bo bai bo tcham li
Ness Cabo Verde suave e doce
Nos terra mãe


Inspiraçao di nos poeta
Princessa d'nos serenata
Na note serena di luar
Di baixe d'janela d'um cretcheu
Na tchoradinha d'um violão


Cabo Verde sem morna
Pa mi el é terra
Sem sol sem calor
Noiva sem grinalda
Vitoria sem gloria
Dum povo criston

Bêm bo dzêm bô nome
Se bô é fidj d'caboverdiano
Bêm no junta voz
No bêm canta nos morna

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

What's Hot/What's Not (2)

Hot: Novos cds de Lura e Beto Dias prestes a chegar aos escaparates. A expectativa de ver se Lura consegue manter o nível ou mesmo superar-se é grande. Quanto a Beto, só posso imaginar o dilema que terá sido escolher as músicas para o Best Of se quase tudo o que ele já fez é best.
Nesta semana em que se comemora o dia nacional da Cultura (ontem), e como que para desmentir um dos meus últimos posts, Praia está num corrupio de concertos, pois a música continua a ser a nossa consolança.
Not: A Moura Company continua a tratar o grosso da população de Praia, que recorre aos seus serviços, como animais da mais baixa condição. Com a cumplicidade da policia de transito (que eu, por diversas vezes, já vi a observar os autocarros hiper-lotados da Moura impávidos e serenos, sem bulir um músculo) a Moura tem agora nas paragens de autocarro um funcionário que se encarrega de garantir que os autocarros só partem para a próxima paragem quando já estão a rebentar pelas costuras. Nas horas de ponta o interior de um autocarro da Moura assemelha-se ao que se passava nos porões dos navios negreiros, com as pessoas coladas umas as outras, pisoteando-se, e os condutores a comportarem-se como capatazes, a quem só falta o chicote.
A Moura tem grande parte de culpa nesse cenário porque não disponibiliza mais autocarros nas suas linhas para evitar essas situações, pelo contrário faz questão de garantir uma viagem o mais desconfortável possível aos seus utentes. Á polícia cabe uma outra fatia de culpa pois nada faz para dar um fim a esta situação. Penso até que ninguem vai fazer nada de nada. Porquê? Primeiro, porque o pessoal da Moura deve estar bem cotado no mercado, gozando de excelentes relações com quem deve pôr um cobro nessa situação.
Segundo, porque quem está a sofrer na pele é o povo. Quem importa nesta terra tem o seu jeep, ou mesmo o seu starletezinho, e está-se marimbando para as condições em que a sua empregada, a sua secretária, o seu eletricista ou funcionário chega ao trabalho. No máximo, aquele espetáculo fere-lhes as vistas mas, assim que deixam de o ver, esqueçem-no.
Por fim, o grande culpado desta situação continuar é mesmo o povo, os utilizadores dos "autocarros" da Moura. Incrível o silêncio, o conformismo, o dexa bai. Alguns mandam bocas quando o aperto é tanto que mais parece que estão a ter relações íntimas com a pessoa colada a sí, ou quando o autocarro demora-se demasiado na paragem e percebem que vão chegar atrasados ao emprego. Mas a grande maioria cala-se perante a indignidade a que são sujeitos. Tenho para mim que se a empresa fosse da responsabilidade do Governo já teriamos visto no telejornal alguem a esgoelar-se, apontando o dedo e exigindo medidas.
Pois bem, o Governo que faça aquilo que está ao seu alcance fazer (creio que será pressionar a policia de trânsito a agir) e todos os que se dizem interessados no bem estar dos cidadãos praienses que mexam as suas influências e pressionem a Moura a parar de tratar pessoas como animais. Estou a pensar na Camara Municipal, na Pró-Praia e na Adeco, por exemplo.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Essas Mulheres


Essas mulheres eu as vejo quando passo. Por vezes apenas olho para elas. Outras vezes, eu as vejo.
Essas mulheres são vendedeiras. Carregam banheiras com coisas dentro,para vender por quem elas passam. Ou sentam-se junto a tabuleiros,para vender a quem por elas passa. Estão nas ruas da cidade essas mulheres. Nas esquinas, nos passeios, nas paragens de autocarro. Umas andam pela cidade, banheira na cebeça, freguesa nha cumpra. Outras deixam-se ficar, sentadas no seu lugar cativo, eternamente marcado como seu,e quedam-se silenciosas.
Banheira de lápis, cadernos, borrachas e livros, que o ano lectivo começou. Tabuleiros de drops, xuínga, mancarra e rapuçada que os meninos da escola já aí estão. Banheiras de bananas, tomates, batatas e feijão porque azágua deste ano foi boa. Tabuleiros de milho fervido, doce de coco e de azedinha porque cusas dja começa da.
Essas mulheres falam alto, riem alto. Contam ás amigas e ao mundo as suas vidas. São mães e por vezes têm os filhos ao pé, outras vezes são os filhos que tomam conta do negócio das mães, ausentes noutras tarefas .
Ás vezes passo por estas mulheres e olho para elas. Outras vezes eu as vejo.
Na paragem de autocarro a mulher vende pipocas. É hora de saída na escola mais próxima e as crianças fazem fila junto à máquina de pipocas doce. Riem, falam alto, acotovelam-se,felizes. A mulher enche os saquinhos de pipoca doce e tem na face uma expressão salgada. Está cansada de mais um dia de calor, numa rua da cidade, à espera que quem passe leve um saquinho de pipocas para que ela possa levar o jantar aos filhos.
*Imagem: tela de Djon Brito.

Sobre Silêncios

Estes dias, com o regresso do Lantuna, o silêncio tem estado na ordem do dia. Certos silêncios.
A mim insistem em me perguntar pelo meu silêncio acerca da viagem que efectuei, há coisa de três meses, a Moçambique, para participar da Bienal dos Jovens Criadores da CPLP. Há quem inclusive pense que seja quase um despropósito eu ter ido participar justamente na área de Literatura e não ter produzido um único texto sobre o que vi e vivi naqueles 10 dias da Bienal.
A verdade é que escrevi sim, sobre a minha experiência em Moçambique. Escrevi enquanto a vivia, no meu diário, e escrevi depois de regressar. Confesso que cheguei a esboçar um texto para ser publicado em algum jornal ou revista e vários posts aqui para o blog. No fim, sempre um sentimento de insatisfação. Havia qualquer coisa que me deixava um margo de boca ao re-ler os textos sobre Moçambique e adiar a sua publicação. Depois percebi o que era. Estavam imcompletos. Em todos eles faltavam "capitulos" á história e eu não me sentia bem com isso. Não me sentia bem comigo mesma de ocultar certas passagens, certos factos, dourar a pilula aqui, contar só metade de um acontecimento ali, apontar o dedo só a aqueles e calar-me sobre estes.
Por fim, escrevi um texto que considerei completo e que me satisfez. No entanto, prefiro guardá-lo para mim.
Mas, talvez, agora que já escrevi sobre o todo possa dele tirar partes. Porque há coisas que escrevemos só para nós e guardamo-las. E talvez um dia, quando for preciso completar o puzzle, contar a história toda, então podemor ir à gaveta buscar a história completa e dá-la aconhecer a quem dela quiser saber.

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Opening credits from the film Kiss Kiss Bang Bang

Se houvesse Óscar© para Melhor Abertura de Filme...

Cinemania

(Da série: Diálogos Preferidos)
Chico: Villages like this they make up a song about every big thing that happens. Sing them for years.
Chris Adams: You think it's worth it?
Chico: Don't you?
Chris Adams: It's only a matter of knowing how to shoot a gun. Nothing big about that.
Chico: Hey. How can you talk like this? Your gun has got you everything you have. Isn't that true? Hmm? Well, isn't that true?
Vin: Yeah, sure. Everything. After awhile you can call bartenders and faro dealers by their first name - maybe two hundred of 'em! Rented rooms you live in - five hundred! Meals you eat in hash houses - a thousand! Home - none! Wife - none! Kids... none! Prospects - zero. Suppose I left anything out?
Chris Adams: Yeah. Places you're tied down to - none. People with a hold on you - none. Men you step aside for - none.
Lee: Insults swallowed - none. Enemies - none.
Chris Adams: No enemies?
Lee: Alive.
Chico: Well. This is the kind of arithmetic I like.
Chris Adams: Yeah. So did I at your age.
* Horst Buchholz (Chico), Youl Breynner(Chris), Steve McQueen (Vin) e Robert Vaughn (Lee) em Os Sete Magníficos (1960).
Repeti a cena deste diálogo nem sei quantas vezes. As expressões de Chris e Vin...a entoação de Lee naquele "alive"...e principalmente toda a descontrução desse personagem tão simbólico que é o cowboy americano.

Back for Good

Logotipo do Sopafla. Cortesia do Daniel Cardoso.
(Thanks man)
(Update.)
De volta às lides com novos links no Ta Flam Algum Kusa e..."censura" nos comentários. Depois de alguma reflexão cheguei à conclusão de que era o melhor a fazer. Hoje mais do que nunca, as caixas de comentários sem moderação são território de certas espécies virtuais com as quais não me apetece ter contacto. Por tabela apanham aqueles anónimos que não o são (não têm um blog, mas assinam o seu nome) e aqueles que mesmo o sendo comportam-se com dignidade, mas visto que continuo a não ser adepta de trocar ideias com desconhecidos...
No fim, fico satisfeita de pelo menos dar corte àqueles que têm blog mas vão comentar anonimante no blog dos outros (shame on you!). Não vou salvar a bloguesfera, o número de comentadores vai diminuir drasticamente mas estou convencida de que não me vou arrepender.
Ainda assim, o SoPaFla (g) mail está activo e aberto a quem quiser entrar em contacto.
(What's Hot, What's Not)
Hot: O anunciado regresso de Casa da Cultura na TCV. AV is back e já-já nos tudu nu ta mora li. Alguem me disse que se Cabo Verde tivesse Ibope Casa da Cultura estária no topo, no dia da estreia. Está podendo!
Not: O deserto cultural que Praia atravessa: nada de Cinema, nada de teatro, nada de exposições, nada de cafés literários e noites de poesia, nada de concertos (se exceptuarmos pequenas actuações em alguns espaços nocturnos)...

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Round Up The Usual Suspects (9)

(...)o Governo acaba de anunciar a ideia de reforma administrativa do país, sob a panaceia da Regionalização. Talvez coubesse, agora como nunca, debater o Estatuto Especial – e já agora os custos da capitalidade – à luz da Regionalização.(...)
Eu quero acreditar que também se vai debater os moldes da Regionalização, isto é, o Governo não vai de sí para sí decidir o modelo de divisão administrativa, sem ouvir nem ter em conta a posição de mais ninguem?!?